03 Março 2023
A reportagem é de Paola Calderón, publicada por Religión Digital, 01-03-2023.
“Elevemos nossas vozes denunciando este assassinato e pedindo justiça”, disse Dom Rafael Cob, presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) e vigário apostólico de Puyo, no Equador, referindo-se ao recente assassinato de Eduardo Mendúa, líder indígena do povo Kofán.
No âmbito da Assembleia Regional dos Povos Bolivarianos, realizada em Quito, o prelado assegurou que como seres humanos sensíveis à dor dos povos indígenas não podem ficar calados, muito menos perante tão grave evento. Para ele, é hora de agir como uma Igreja profética que solidária se sente no dever de denunciar este tipo de crimes que atingem visivelmente a liderança dos povos amazônicos; muito mais da REPAM, organização diretamente comprometida com a defesa da vida na Amazônia. “É um drama diante do qual não podemos ficar calados”, disse ele.
Questionado sobre os possíveis motivos do assassinato, dom Rafael Cob não descarta que as contínuas denúncias feitas pela liderança indígena sobre os efeitos do extrativismo na Amazônia tenham sido a causa. Os processos industriais liderados por empresas transnacionais que lidam com a exploração de recursos como o petróleo e o garimpo legal e ilegal, apenas minam os recursos que pertencem ancestralmente aos povos amazônicos; geralmente são vítimas do confinamento, da expropriação de seus territórios e do deslocamento forçado, após terem sido forçados a fugir de seus territórios.
“Os líderes levantam suas vozes para defender o território, nosso irmão era um líder da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), uma pessoa com uma trajetória de denúncia dos abusos contra a população”, o que nas palavras do bispo foi constitui uma maneira totalmente covarde de agir. “Mandar pistoleiros para eliminar uma vida é condenável sob todos os pontos de vista, desde a Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM) pedimos justiça, pedimos que o assassinato dessa liderança indígena não fique impune”, afirmou.
O crime do líder Eduardo Mendúa pode se somar aos fatores que por outros ângulos afetaram a aproximação entre os povos indígenas e o governo equatoriano. No entanto, o prelado assegurou ser importante manter os diálogos conscientes de que talvez os progressos alcançados não sejam suficientes, mas para o bem comum é necessário agir com equilíbrio. "Pedimos que as pessoas sejam ouvidas e que levantemos nossas vozes diante de toda injustiça, mas também buscando caminhos que não levem à violência, e sim que nos convidem a uma reflexão construtiva sem deixar de pensar no dor dos outros".
Da mesma forma, o apelo de dom Rafael Cob lembra que “pedir justiça não implica gerar outras situações de maior violência. O objetivo é que saibamos viver em um mundo de paz acima das diferenças e que possamos contribuir ao bem comum e à paz do país”.
Dirigindo-se às famílias atingidas, o prelado manifestou sua solidariedade e proximidade com as vítimas deste crime, lamentando o ato criminoso que mancha o caminho de uma família que confia à vontade e companhia de Deus nestes momentos de dor.
Eduardo Mendúa pertencia à nacionalidade Kofán na cidade de Sucumbíos, no Equador. O assassinato cometido em 26 de fevereiro motivou as organizações indígenas a exigir do governo uma efetiva investigação do ocorrido. Da mesma forma, defenderam a cessação das atividades da Petro Equador, indústria que tem causado vários conflitos e mortes em diferentes áreas do país.
De acordo com as versões dos vizinhos, o líder estava cortando algumas bananas da árvore quando homens armados o atacaram, causando-lhe 12 ferimentos de bala.
Eduardo Mendúa vivia em um território próximo a uma zona de exploração controlada por esse tipo de indústria. De acordo com os dados fornecidos pela Procuradoria Geral do Estado do Equador, há uma pessoa detida por ligações com o crime, o que deverá ser verificado com o passar dos dias.
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Rafael Cob, presidente da Repam: “Levantamos nossas vozes denunciando este assassinato e pedindo justiça” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU